segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Formação inicial de professores de química para a educação escolar de alunos surdos



A maioria dos cursos de licenciatura em química não têm nenhuma disciplina relacionada à reflexão fundamentada na concepção dos diretos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis. Tal perspectiva está relacionada a participação dos sujeitos no processo escolar e na educação de qualidade para TODOS. Educação para todos engloba o direito de os alunos com indicativos à educação especial estudarem em uma escola regular, sendo assim, os professores necessitam de uma base na formação inicial para trabalhar com a inclusão escolar. Nessa perspectiva a Politica Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva insere o aluno surdo como campo de analise e ações para que seja também contemplado com esse direito.
O estágio supervisionado, nos cursos de licenciatura, é o espaço de interlocução entre a universidade e a educação básica. Neste sentido, as atividades não podem acontecer em uma via única, ou seja, da universidade para a escola, mas sim em situações de troca e construção dos saberes docentes de todos os envolvidos no processo. (GARCEZ et al, 2012). Assim, o objetivo do estágio curricular supervisionado é proporcionar aos graduandos a vivência e a prática no exercício da profissão, com o intuito de que estes adquiram habilidades e desenvolvam uma postura ética e crítica capaz de orientá-los para uma futura atuação profissional. (BRASIL, 2011).
Estes estágios supervisionados podem ser espaços de discussão sobre educação de surdos. Nos campos de estágios, escolas públicas e particulares, os graduandos têm a oportunidade de vivenciar a inclusão acontecendo e, principalmente, observar as dificuldades e oportunidades de toda a comunidade escolar neste processo. Já nas disciplinas atreladas aos estágios, na universidade, os estudantes podem discutir o que vivenciaram na prática e, assim, desenvolver metodologias para melhorar a educação dos alunos com indicativos à educação especial.
Na área específica da educação para os surdos, fundamentada pelo Decreto 5626/05, todos os alunos das licenciaturas têm a disciplina de Língua Brasileira de Sinais como componente obrigatório em seus currículos e tal ação visa a formação de professores para a educação de surdos. Dessa forma a formação inicial de professores de química para a educação escolar de surdos visa possibilitar que os graduandos conheçam a singularidade linguística desses alunos, bem como reflitam em seus estágios curriculares sobre a presença e o papel do interprete e tradutores de Libras nas escolas. 
O atendimento educacional especializado (AEE) como espaço de acessibilidade para alunos surdos, por contemplar as necessidades especificas desses alunos, é um espaço rico para a atuação e observação dos alunos estagiários de química, pois em parceria com os profissionais que atuam no AEE podem propor atividades em Libras com a utilização de recursos visuais que potencializam as experiências visuais dos alunos surdos. Estas ações podem contribuir para reflexão acerca da inclusão, visto que conhecendo as diferenças linguísticas dos surdos essas serão consideradas e problematizadas no contexto do ensino regular. Dessa forma, é imprescindível que o professor orientador de estágio tenha conhecimento específico sobre a singularidade linguística dos alunos surdos a fim de orientar os discentes para a percepção dos fatores apresentados anteriormente.

REFERÊNCIAS, PARA SABER MAIS...

BRASIL, Serviço Público Federal. Resolução CEPE n. 191. Universidade Federal de Lavras (UFLA). Lavras, 11 out. 2011.
______. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez. 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em: 12 abr. 2012.
______. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/politica.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2012.
GARCEZ, E. S. C.; GONÇALVES, F. C.; ALVES, L. K. T.; ARAÚJO, P. H. A.; SOARES, M. H. F. B.; MESQUITA, N. A. S. O Estágio Supervisionado em Química: possibilidades de vivência e responsabilidade com o exercício da docência. ALEXANDRIA, Santa Catarina, nov. 2012, v.5, n.3, p. 149.


Érika Soares de Melo – Mestre em Educação Especial e Graduada em Química Licenciatura
Mateus Viza – Graduando em Química Licenciatura

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O surdo: Algumas questões iniciais

Olá caro amigo, hoje a leitura é para você que quer conhecer um pouco mais sobre o Surdo e alguns processos que reforçam sua identidade e cultura.

Muitas pessoas se perdem em terminologias para se referir à pessoa surda. É comum escutarmos de ouvintes alheios os termos surdo-mudo, mudo ou deficiente auditivo, pois acreditam que chamá-lo de Surdo imprima mais preconceito.  Para esse grupo social, a carga semântica empregada no significado de cada palavra faz muito sentido e não aprovam os termos supracitados, preferem ser chamados de SURDOS.  O termo deficiente, adotado devido a um processo histórico no qual o surdo é interpretado apenas pelo estereótipo em uma visão clínico terapêutico. Encarar o surdo apenas por uma perspectiva fisiológica exclui ao surdo o reconhecimento da dimensão política, lingüística, social e cultural da surdez.

Os termos “mudo” ou “surdo-mudo” também são bem empregados por grande parte da população leiga. Tais termos são incorretos, pois existem surdos que podem falar, se quiser, através de aulas com o aparelho fonador. Existem surdos que são oralizados e os que preferem não ser, essa situação não nega o uso da língua de sinais.

Muitas pessoas pensam que o intérprete é a voz do surdo. O mesmo tem papel importante nas interações entre surdos e ouvintes que desconhecem a LIBRAS. Porém a língua de sinais é a língua oficial do surdo, pois constrói identidades, promove relações sociais, desenvolve aspectos lingüísticos e se faz presente no meio que vivemos tendo voz para ter consciência na tomada de decisão. Sendo assim, atribuir ao  intérprete de libras a responsabilidade de educar, ensinar conteúdos em sala de aula, atividades básicas como comprar um material, reforça a crença que o surdo não tem língua.

Então caros leitores, por hoje é isso e concluo nossa reflexão com os dizeres de Gertrudes Stein, uma surda alemã, que sinalizou em 1969 uma mensagem sobre quem é o surdo.

“É muito natural, alguns ouvem com mais prazer com os olhos do que com os ouvidos. Eu ouço com os olhos.”
Referência:

GESSER, A, O Surdo. In: GESSER, A. Libras? Que língua é essa? São Paulo: Parábola,2009 (capítulo 2).

Vinícius Carvalho
Mestrando em Ensino de Química- UFJF/PPGQ
vinicius-scarvalho@hotmail.com