quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O Ensino de Química para Surdos através do teatro.


É notório que o teatro encanta muitas pessoas, como também é uma forma de se expressar, mostrar realidades, contar histórias, mostrar pontos diferentes de um mesmo assunto, representar conceitos que seriam de difícil entendimento pelas metodologias tradicionais. Em uma das falas de Einstein ele afirmou que: “a arte mais importante do mestre é provocar a alegria da ação criadora e do conhecimento”. Então porque não utilizá-lo como uma forma de ensino? O teatro, para alguns autores é defendido como uma estratégia muito importante para o ensino, como aponta Koudela (2011 p.1):

“Atualmente a legislação educacional brasileira reconhece a importância da arte na formação e desenvolvimento de crianças e jovens, incluindo-a como componente curricular obrigatório da educação básica. O Teatro é abordado nos PCN – Arte a partir de sua gênese em rituais de diferentes culturas e tempos e o jogo é conceituado a partir promovendo o desenvolvimento da criatividade, em direção à educação estética e práxis artística. Nesse sentido, o jogo teatral é um jogo de construção em que a consciência do ‘como se’ é gradativamente trabalhada em direção à articulação da linguagem artística do teatro. No processo de construção dessa linguagem, a criança e o jovem estabelecem com seus pares uma relação de trabalho, combinando a imaginação dramática com a prática e a consciência na observação das regras do jogo teatral.”

Os surdos se comunicam através da LIBRAS, consequentemente utilizam muitas expressões faciais e corporais, sendo a observação visual muito importante. Neste sentido podemos pensar o quanto a química, ou qualquer outra disciplina, ensinada de forma lúdica, como o teatro, poderia enriquecer o processo de ensino-aprendizagem. Mas antes de tudo devemos entender que o surdo não é uma pessoa incapaz, e sim uma pessoa que se comunica em uma língua diferente dos ouvintes, e nós podemos claramente utilizar esse meio de comunicação para interagir e criar interessantes formas de ensinar diversos conteúdos.
Atualmente ensinar química tem sido um desafio, visto que a desmotivação dos alunos em estudar um conteúdo abstrato e muitas vezes encarado como difícil, somente tem aumentado assim, se faz necessário pensar em alternativas diferenciadas de ensino. Na esfera do ensino de química para surdos, a linguagem química se torna muito distante a esses indivíduos, pois possui uma simbologia própria e muitos termos específicos da química não possuem sinal próprio em LIBRAS (SOUZA e SILVEIRA, 2011). Esta dificuldade, além da complexidade de interpretação e compreensão da Língua Portuguesa, acaba gerando maiores dificuldades porque os recursos didáticos basicamente se encontram na forma escrita, ou sem adaptação em LIBRAS. Desta forma, o teatro se mostra como uma alternativa interessante para auxiliar o professor e motivar os alunos. Podemos trabalhar com os alunos ouvintes e os surdos, conseguindo uma maior interação entre ambos além de proporcionar uma forma eficaz de se aprender um conteúdo de forma lúdica e prática.



Referências:

·         KOUDELA, Ingrid D. A nova proposta de ensino do teatro. 2011. Acessado em 24.10.2016 Disponível em: http://www.revistas.usp.br/salapreta/article/download/57096/60084

·         SOUZA, S. F. de; SILVEIRA, H. E. Terminologias químicas em LIBRAS: a utilização de sinais na aprendizagem de alunos surdos. Química Nova na Escola. n. 33, p. 36-46, 2011.

·         https://culturasurda.net/



Por: Maria Helena Zambelli

mhzambelli@gmail.com

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Relato de experiência de uma aluna surda: o olhar sobre o ensino de química em um projeto de extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora.


Olá caros leitores, hoje vamos saber a história de uma estudante surda que motivou um grupo de profissionais a criar um projeto que tivesse um ensino de química voltado ao aluno surdo.

Depoimento...

Tudo começou em 2012, eu estava no 9° ano do ensino fundamental, quando fui visitar um espaço com a escola que chamava Centro de Ciências da Universidade Federal de Juiz de Fora. Tinha uma exposição acontecendo que chamava “Cadê a Química?“. Era uma casa, onde tinha explicações de química pela casa inteira e eu não entendia nada. Primeiro porque os mediadores falavam rápido e minha mãe que era intérprete se perdia em vários termos próprios da química. Esses termos próprios não tinham sinais e isso dificultava a comunicação em língua brasileira de sinais, pois ela precisava explicar tudo detalhadamente para que eu pudesse compreender, sendo assim, a comunicação era bem mais lenta.


Pois bem, eu e minha mãe chamamos o diretor do espaço para propor um projeto que ensinasse química para surdos. Sabíamos que na escola regular esses projetos não recebem incentivos e também não apresentam condições para existirem. Entretanto, na universidade sim, teríamos uma chance. Pois bem, foi quando o diretor do espaço aceitou e montou um projeto para atender o  surdo.
Comecei a assistir às aulas e participei do mesmo até a conclusão do ensino médio que me levou a graduação em Letras – Libras da Universidade Federal de Juiz de Fora. Todo esse esforço me coloca hoje como bolsista voluntária para auxiliar novos alunos surdos, que assim como eu, passam por sérias dificuldades dentro da escola regular para um ensino que de fato nos inclua. O projeto de ensino de química para alunos surdos é muito importante, por que na escola esse ensino não é maravilhoso, digo a didática não é acessível. Não temos um jogo que nos inclua ou quando a aula é diferente, apresenta um experimento, o professor não sabe explorar os detalhes visuais que nos aguça.

O projeto apresenta acessibilidade para ensinar, é claro, bastante visual e tem um professor de química que tem comunicação em libras, que faz muita diferença no processo de ensino aprendizagem. A sensibilidade do professor ajuda a criar jogos de química, dinâmicas, pois ele compreende a vida do surdo e nossa cultura.
 Para finalizar, quero chamar atenção de professores que aprendam Libras, e que se possível, criem mais projetos como esse, que tenha somente alunos surdos em sala de aula com uma atenção voltada para alunos surdos. Aluno surdo não tem mais dificuldade, só não um ensino acessível para aprender.



 ...

Esse depoimento nos faz refletir sobre vários pontos que permeiam a educação de surdos, tais como a formação de professores de química, a gestão escolar, as dificuldades em terminologias próprias da química em Libras, e outras tantas que dizem respeito aos aspectos culturais do povo surdo que não são explorador e mencionados dentro da escola regular. Tudo que foi comentado pela aluna mostra que os alunos recorrem a espaços extra escolares que apresentam disponibilidade para promover um ensino acessível e de qualidade aos surdos. Nesse sentido, devemos repensar, qual o nosso papel como escola?

Abraços e até a próxima!!


Mirella Pena – Graduanda de Letras- Libras da UFJF.

Vinícius S Carvalho- Mestrando de Ensino de Química pelo PPGQ/UFJF.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Vocês já ouviram falar em Pedagogia Visual?



 Olá queridos leitores!


Algo que tem nos auxiliado dentro do Projeto de Extensão de Inclusão de Surdos no Ensino de Química, oferecido pelo Centro de Ciências da UFJF, a compreender as especificidades da educação para surdos são as leituras relativas à Pedagogia Visual. 

Mas o que é essa Pedagogia?

Antes de compreendê-la, vale ter em conta que existem linguagens não verbais que fazem parte do dia-a-dia de muitas pessoas. Dentre elas está a linguagem imagética, que tem como foco o uso de imagens para explorar um conceito, uma ideia ou apresentar uma situação. A semiótica imagética é um ramo dessa linguagem. 

 
Campello (2007) explica que a semiótica imagética é um estudo novo e um novo campo visual no qual se insere a cultura surda. “É a imagem em Língua de Sinais, onde vocês podem transportar qualquer imagem ou signos em desenhos ou figuras em Língua de Sinais [...]” (CAMPELLO, 2007, p. 106).
A língua de sinais na comunidade surda exerce o papel de propiciadora de inserção cultural, sendo por meio dela que o indivíduo surdo passa ter contato com seus pares, com sua cultura o que favorece diretamente o desenvolvimento de sua identidade. É através da língua de sinais que os surdos têm a garantia de acesso aos saberes científicos construídos em nossas escolas. Segundo Vygotsky (1999) os conceitos são construções culturais, que vão sendo internalizadas pelo indivíduo no decorrer do processo de desenvolvimento. No entanto, no que diz respeito ao processo de aquisição de conceitos por indivíduos surdos, destacamos que além da oferta de educação em sua primeira língua, garantida sob força do decreto nº 5.626 (BRASIL, 2005), a utilização de recursos visuais como suporte para tal aquisição, atualmente nomeadas pedagogia visual Buzar (2009), tem se apresentado como uma prática pedagógica que visa à garantia da aprendizagem significativa para essa parcela da sociedade. Kelman (2011) nos remete ao fato de que além da utilização da linguagem oral e da língua de sinais nos processos de ensino/aprendizagem, a utilização de recursos visuais variados pode contribuir significativamente para a aprendizagem de crianças surdas, salientando a necessidade de que esses recursos estejam inseridos nas estratégias pedagógicas direcionadas aos alunos. Corroborando com a autora, Simões, Zava, Silva e Kelman (2011, p.3609) destacam que “o ensino de alunos surdos apoia-se em duas vertentes, o bilinguismo e o uso de recursos especiais, baseados na experiência visual”.
Sendo assim, o uso das imagens é algo que o professor de química e de ciências pode ir adquirindo ao conviver com a comunidade surda e, com isso, ir construindo a consciência linguística do outro.
Para compreender melhor sobre a Pedagogia Visual e quais aportes teóricos a acompanham, deixamos como sugestão a leitura do texto: Pedagogia Visual/Sinal na Educação dos Surdos – Ana Regina e Souza Campello. Disponível em PDF: <http://editora-arara-azul.com.br/estudos2.pdf>. (p. 100-131).

REFERÊNCIA:

BUZAR, E. A. S. A Singularidade visuo-espacial do sujeito surdo: implicações educacionais. Dissertação de mestrado. Brasília: Faculdade de Educação da UnB, 2009.
KELMAN, C. A. Significação e aprendizagem do aluno surdo. In MARTÍNEZ, A. M. & TACCA, M. C. V. R. (Orgs.) Possibilidades de aprendizagem: ações pedagógicas para alunos com dificuldade e deficiência. Campinas, SP: 2011.
CAMPELLO, Ana Regina e Souza. Pedagogia Visual: sinal na Educação de Surdos. In: QUADROS, R. W; PERLIN. G. (Org). Estudos Surdos II. Petrópolis, RJ: Arara Azul, 2007, p. 101-131.
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo, Martins Fontes, 1989, Obras escogidas V. Visor. Madrid, 1997.

Mariana Bueno Ribeiro Mendes – Graduanda em Pedagogia UFJF
Sâmela Lessa – Graduanda em Licenciatura em Química UFJF
Vinícius da Silva Carvalho- Mestrando em Educação Química pelo PPGQ/UFJF.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

O ensino de química, voltado para inclusão de alunos surdos, mediado pelas TICs.

     

Vinícius Carvalho, Mestrando em Educação Química pela UFJF.
vinicius.scq@gmail.com


      Olá caro leitor, hoje abordaremos um assunto bem interessante! Você já ouviu falar sobre as TICs? Pois bem, as TICs, assim abreviado, são todo o tipo de Tecnologia da Informação e Comunicação. Consideraremos nesse texto, todo o tipo de programas, recursos tecnológicos com possibilidades de utilização em lições química.
        Atualmente, a tecnologia vem invadindo nosso espaço escolar e cada vez mais se tem a presença de celulares e aplicativos difundidos para o uso entre estudantes. Como lidar com isso?
A resposta é calma! A tecnologia pode ser uma grande aliada do professor, porém em grande parte da busca de softwares é destinada a pesquisa de química dura, não sendo criados especificamente para a área de educação e ensino.  Mas não se desespere professor, podemos reverter esse caso e fazer com que os softwares já criados ganhem uma cara diferente, a cara do ensino, da exploração do campo visual. E como podemos ver aqui no blog e em outras publicações, a inclusão de alunos surdos e ouvintes em uma sala de aula podem estar em grande parte no uso de TICs para o processo de ensino e aprendizagem de certos conteúdos.

Vamos então à apresentação de alguns programas e recursos bacanas para se utilizar...

Programas de modelagem molecular em 3D: O ensino de diversos tipos de ligações entre átomos e das interações entre moléculas é fundamental para se compreender as propriedades das substâncias. Para fazer o download e saber mais click em http://avogadro.cc/wiki/Get_Avogadro





                                                                                                 Imagens disponíveis do programa. Acesso em: 01/06/2016


Vídeos e fotografias em sala de aula: Muitos autores como Mateus,A.L ; Fantini, L.H (2015) denominam esse recurso como um processo em que o estudante realiza “a ciência na tela”. Esses autores chamam a atenção para que esse recurso audiovisual e visual seja uma fonte de mídia mais utilizada em sala de aula, integradora e inclusiva com o tempo apresentado nas ultimas décadas. Sendo assim, vídeos do Youtube com experimentos de química, vídeos gravados pelos alunos e fotografias podem ser utilizados como recursos, métodos de aprendizagem além de serem utilizados como instrumento de avaliação da aprendizagem dos conceitos ministrados.



Aplicativos de celular: Ainda temos muito pouco material que podemos utilizar em sala de aula, porém, vocês precisam ver os aplicativos de tabela periódica interativa que ajudam muito a inserção e a contextualização de assuntos que envolvem os elementos químicos. Para fazer o download é preciso acessar o site https://itunes.apple.com/us/app/the-elements-by-theodore-gray/id364147847?mt=8



                                           Imagem disponível do aplicativo. Acesso em 01/06/2016.

Todos esses recursos, que apelam e aguçam nosso sentido visual, pode e deve ser uma estratégia para inclusão de aprendizagem de química dos estudantes surdos. Principalmente surdos, pois sabemos que a parte potencial para o seu aprendizado é mediado pela visão.
Por meio desse texto, gostaria de chamar atenção para as possibilidades e sabemos que nem sempre os mesmos podem ser utilizados, mas acreditamos em um ideal e sabemos que esse tipo de recurso precisa ser mais acessado dentro da sala de aula para que a inclusão de fato possa ser feita.
Compartilhem também a experiência de vocês, será um prazer para nós!!

Abraços queridos e até a próxima!