A
Educação de Surdos no Brasil: uma reflexão da história e dos atuais desafios dessa
educação
Olá
amigo leitor. Hoje vamos tratar sobre algumas questões educacionais da
comunidade surda no nosso país, perpassando por fatos históricos desse processo educativo. Essa breve análise
historiográfica nos permite identificar e melhor entender as dificuldades
vivenciadas por esta comunidade juntamente com a realidade e tendências da educação
na perspectiva do aluno surdo.
Ao
analisarmos os trabalhos que dizem sobre a história educação de surdos no
Brasil, encontramos que seu início se deu em 1855 quando com o apoio do
Imperador D. Pedro II, foi fundado o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos – IISM.
Segundo Reis (1992), o interesse foi impulsionado pelo fato do Imperador ter um
neto com surdez, filho da Princesa Isabel com o conde D’Eu – parcialmente
surdo.
O
precursor da educação de Surdos no Brasil foi Hernest Huet (1822-1882) que nasceu
em Paris, na França. Huet começou seus estudos desde a infância e ouvia
normalmente. Ficou surdo aos doze anos de idade por consequência de um sarampo.
Pertencente à nobreza, estudou no Instituto em Bourges onde aprendeu a Língua
de Sinais francesa. Tornou-se professor de francês para um grupo de surdos na
Europa e por sua experiência foi convidado pelo imperador Dom Pedro II.
Segundo
o Relatório Anual de 1993 da Federação Nacional de Integração e Educação de
Surdos (FENEIS), o francês Huet, ex-diretor do Instituto de Surdos de Paris,
trouxe sua experiência a fim de comprovar a capacidade do surdo na área da
Educação. Seus trabalhos ajudaram a colocar em funcionamento o Instituto de
Surdos-Mudos, a princípio instalado no Centro do Rio de Janeiro. Porém, apenas
em 26 de setembro de 1857 consolida-se uma educação sistematizada com a
fundação do Instituto Nacional de Educação do Surdo (INES), atualmente no
bairro Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Durante anos o INES foi a única escola
especial para surdos e recebia surdos de todas as partes do Brasil. Até hoje o Instituto
é uma referência não apenas nacional como também internacional.
Figura: Foto antiga e atual do Instituto Nacional
de Educação para Surdos – INES.
Fontes:http://construindohistoriahoje.blogspot.com.br/2014/10/breve-relato-sobre-aspectos-historicos.html
e http://editora-arara-azul.com.br/novoeaa/revista/?p=466
Dessa forma, a Língua de Sinais adentrou na educação dos indivíduos
surdos no Brasil como forma de comunicação e expressão, sobretudo com
influência francesa que, aos poucos, foi se desenvolvendo e se adaptando à cultura
linguística brasileira.
Atualmente, as comunidades surdas já conquistaram vários espaços
relacionados à educação e ao uso da sua língua natural, a Libras. Tais
conquistas estão intrinsecamente ligadas a aprovações do legislativo através de
Decretos e Leis que garantem ao surdo os seus direitos como cidadãos.
Pesquisas
sobre a educação de surdos no Brasil têm mostrado que existem poucos trabalhos
que se propõe a investigar o percurso histórico da educação inclusiva do aluno
surdo no Ensino de Ciências. A realidade que enfrentamos hoje, segundo Souza e
Silveira (2011) é de professores de ciências – e no caso particular de nossa
pesquisa, de professores de química – que não possuem formação que lhes
possibilitem trabalhar com deficientes auditivos, gerando como consequência a
exclusão e distanciamento dos alunos surdos nas aulas desse conteúdo.
Como uma
consequência de Leis e Decretos que visam garantir o acesso de todos à
educação, os alunos surdos de hoje estudam, em sua maioria, com intérpretes em
classes regulares presentes nas escolas inclusivas. Não existe ainda um questionamento contundente
quanto aos pontos positivos e negativos deste fato. Simplesmente, é a Lei que
deve ser seguida.
No campo
das ciências acadêmicas observa-se um crescente número de pesquisas
interessadas em conhecer a realidade da comunidade surda e discorrer sobre a
necessidade da formação de professores capacitados, metodologias que contemplem
inclusão, dentre outras questões que permeiam o ensino das ciências.
O trabalho de Ferreira,
Nascimento e Pitanga (2014) reclama a necessidade de uma formação consistente
do professor. Formação esta que englobe os conteúdos e as estratégias
metodológicas adequadas e necessárias para que possam atuar com alunos
especiais de modo responsável. Urge a necessidade de realizar pesquisas que
possibilitem sugestões eficazes para os problemas enfrentados no ensino voltado
aos alunos surdos.
No tocante à educação do aluno com surdez, é necessário que
todos os profissionais da escola sejam conscientizados de seus papéis para que se permita um
caminhar menos árduo desse aluno rumo ao seu sucesso acadêmico. Não basta a existência
de uma legislação ampla que, dentre outras garantias, dá o direito a ter o
intérprete em sala, mas necessita-se, ainda, de mudanças gradativas e contínuas
de toda a sociedade.
Obrigada pela leitura e até breve!
Referências:
Reis, V. P. F. A criança
surda e seu mundo: o estado da arte, as políticas e as intervenções necessárias.
Dissertação, Vitória, 1992.
FENEIS. Grupo de
Pesquisa da FENEIS. Educação de surdos e educação inclusiva. Revista da FENEIS,
Relatório Anual (1), 18-20, 1993.
Souza, S. F. de; Silveira, H.
E. Terminologias Químicas em LIBRAS: A utilização de sinais na aprendizagem de
alunos surdos. Química nova na escola, 33(1), 2011.
Ferreira, W. M.; Nascimento, S. P. F.; Pitanga, A. F. Dez Anos da Lei da Libras: Um Conspecto dos
Estudos Publicados nos Últimos 10 Anos nos Anais das Reuniões da Sociedade
Brasileira de Química. Química Nova
na Escola, 36(3),185-193, 2014.
Jomara M Fernandes
Mestre em Ensino de Química pela Universidade Federal de Juiz de Fora
jomarafernandes@yahoo.com.br