segunda-feira, 21 de março de 2016

DIALOGANDO EXPERIÊNCIAS: A CONSTRUÇÃO DO SINAL DE DIAGRAMA DE LINUS PAULING.


            O Centro de Ciências da Universidade Federal de Juiz de Fora oferece um projeto de extensão voltado para o ensino, da disciplina química, do aluno surdo por meio de recursos acessíveis permitindo a construção de instrumentos de ensino. Paralelo a esses objetivos o projeto visa proporcionar aos graduandos dos cursos de licenciatura em Química, Pedagogia e Letras-Libras experiências na área da educação inclusiva.
Procura-se nesse espaço atender o aluno surdo e considerando as suas especificidades linguísticas, possibilidades para os estudantes construírem conhecimento da disciplina de química. Pesquisas apontam que a ausência de sinais para essa terminologia dificulta a interação do aluno com o novo que lhe está sendo apresentado.
            Ciente destas condições buscou-se organizar as aulas a partir de recursos visuais variados, tais como: programas de informática, tabela periódica interativa, práticas em laboratório e produtos alternativos, além de materiais didáticos específicos construídos de acordo com as observações e colaboração dos alunos, participantes ativos no processo do ensino, tendo como objetivo os seguintes passos.

Essa atividade destaca o trabalho sobre configuração eletrônica, que foi desenvolvido da seguinte maneira:



De acordo com essa imagem, a Aula 2 teve como objetivo a construção de um material didático que foi utilizado recursos específicos construído, pelo professor e os alunos, no formato de um jogo interativo, composto por 7 caixas de plástico transparente, potinhos de plástico transparente de 04 tamanhos diferentes, bolinhas de plástico na cor dourada e etiquetas para identificação.
       
A referida atividade possibilitou melhor compreensão sobre a dinâmica da aprendizagem dos alunos; a importância da produção de materiais didáticos visuais, mais apropriados à formação lingüística do surdo; que a construção de recursos didáticos em conjunto com os alunos também estimula sua autonomia e a proposta de um sinal para o Diagrama de Linus Pauling escrito abaixo em SignWriting.
Sinal de distribuição eletrônica em Sign Writing.
         

No desenvolvimento contínuo do projeto verifica-se que há uma preferência dos estudantes por atividades mais visuais, que podem ser exploradas em várias formas. Podemos destacar que quando se associa o estimulo visual com o sentido do tato, a compreensão do aluno surdo parece torna-se mais eficaz. Os trabalhos continuam com o intento de promover o conhecimento sobre a realidade do aluno surdo no seu desenvolvimento escolar.


Eloi Teixeira César- Doutor em Química pela UFMG
Maria Aparecida Borges- Mestre em Educação pela UNESP
Vinícius S. Carvalho* - Mestrando em ensino de Química pela UFJF
*vinicius-scarvalho@hotmail.com

domingo, 6 de março de 2016

A Educação de Surdos no Brasil: uma reflexão da história e dos atuais desafios dessa educação

Olá amigo leitor. Hoje vamos tratar sobre algumas questões educacionais da comunidade surda no nosso país, perpassando por fatos históricos desse processo educativo.  Essa breve análise historiográfica nos permite identificar e melhor entender as dificuldades vivenciadas por esta comunidade juntamente com a realidade e tendências da educação na perspectiva do aluno surdo.

Ao analisarmos os trabalhos que dizem sobre a história educação de surdos no Brasil, encontramos que seu início se deu em 1855 quando com o apoio do Imperador D. Pedro II, foi fundado o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos – IISM. Segundo Reis (1992), o interesse foi impulsionado pelo fato do Imperador ter um neto com surdez, filho da Princesa Isabel com o conde D’Eu – parcialmente surdo.

O precursor da educação de Surdos no Brasil foi Hernest Huet (1822-1882) que nasceu em Paris, na França. Huet começou seus estudos desde a infância e ouvia normalmente. Ficou surdo aos doze anos de idade por consequência de um sarampo. Pertencente à nobreza, estudou no Instituto em Bourges onde aprendeu a Língua de Sinais francesa. Tornou-se professor de francês para um grupo de surdos na Europa e por sua experiência foi convidado pelo imperador Dom Pedro II.

Segundo o Relatório Anual de 1993 da Federação Nacional de Integração e Educação de Surdos (FENEIS), o francês Huet, ex-diretor do Instituto de Surdos de Paris, trouxe sua experiência a fim de comprovar a capacidade do surdo na área da Educação. Seus trabalhos ajudaram a colocar em funcionamento o Instituto de Surdos-Mudos, a princípio instalado no Centro do Rio de Janeiro. Porém, apenas em 26 de setembro de 1857 consolida-se uma educação sistematizada com a fundação do Instituto Nacional de Educação do Surdo (INES), atualmente no bairro Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Durante anos o INES foi a única escola especial para surdos e recebia surdos de todas as partes do Brasil. Até hoje o Instituto é uma referência não apenas nacional como também internacional.

Figura: Foto antiga e atual do Instituto Nacional de Educação para Surdos – INES. Fontes:http://construindohistoriahoje.blogspot.com.br/2014/10/breve-relato-sobre-aspectos-historicos.html e http://editora-arara-azul.com.br/novoeaa/revista/?p=466

 Dessa forma, a Língua de Sinais adentrou na educação dos indivíduos surdos no Brasil como forma de comunicação e expressão, sobretudo com influência francesa que, aos poucos, foi se desenvolvendo e se adaptando à cultura linguística brasileira.

Atualmente, as comunidades surdas já conquistaram vários espaços relacionados à educação e ao uso da sua língua natural, a Libras. Tais conquistas estão intrinsecamente ligadas a aprovações do legislativo através de Decretos e Leis que garantem ao surdo os seus direitos como cidadãos.

Pesquisas sobre a educação de surdos no Brasil têm mostrado que existem poucos trabalhos que se propõe a investigar o percurso histórico da educação inclusiva do aluno surdo no Ensino de Ciências. A realidade que enfrentamos hoje, segundo Souza e Silveira (2011) é de professores de ciências – e no caso particular de nossa pesquisa, de professores de química – que não possuem formação que lhes possibilitem trabalhar com deficientes auditivos, gerando como consequência a exclusão e distanciamento dos alunos surdos nas aulas desse conteúdo.

Como uma consequência de Leis e Decretos que visam garantir o acesso de todos à educação, os alunos surdos de hoje estudam, em sua maioria, com intérpretes em classes regulares presentes nas escolas inclusivas.  Não existe ainda um questionamento contundente quanto aos pontos positivos e negativos deste fato. Simplesmente, é a Lei que deve ser seguida.

No campo das ciências acadêmicas observa-se um crescente número de pesquisas interessadas em conhecer a realidade da comunidade surda e discorrer sobre a necessidade da formação de professores capacitados, metodologias que contemplem inclusão, dentre outras questões que permeiam o ensino das ciências.

O trabalho de Ferreira, Nascimento e Pitanga (2014) reclama a necessidade de uma formação consistente do professor. Formação esta que englobe os conteúdos e as estratégias metodológicas adequadas e necessárias para que possam atuar com alunos especiais de modo responsável. Urge a necessidade de realizar pesquisas que possibilitem sugestões eficazes para os problemas enfrentados no ensino voltado aos alunos surdos.

No tocante à educação do aluno com surdez, é necessário que todos os profissionais da escola sejam conscientizados de seus papéis para que se permita um caminhar menos árduo desse aluno rumo ao seu sucesso acadêmico. Não basta a existência de uma legislação ampla que, dentre outras garantias, dá o direito a ter o intérprete em sala, mas necessita-se, ainda, de mudanças gradativas e contínuas de toda a sociedade.

Obrigada pela leitura e até breve!

Referências:

Reis, V. P. F. A criança surda e seu mundo: o estado da arte, as políticas e as intervenções necessárias. Dissertação, Vitória, 1992.

FENEIS. Grupo de Pesquisa da FENEIS. Educação de surdos e educação inclusiva. Revista da FENEIS, Relatório Anual (1), 18-20, 1993.

Souza, S. F. de; Silveira, H. E. Terminologias Químicas em LIBRAS: A utilização de sinais na aprendizagem de alunos surdos. Química nova na escola, 33(1), 2011.

Ferreira, W. M.; Nascimento, S. P. F.; Pitanga, A. F. Dez Anos da Lei da Libras: Um Conspecto dos Estudos Publicados nos Últimos 10 Anos nos Anais das Reuniões da Sociedade Brasileira de Química. Química Nova na Escola, 36(3),185-193, 2014.

Jomara M Fernandes
Mestre em Ensino de Química pela Universidade Federal de Juiz de Fora
jomarafernandes@yahoo.com.br