quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O Ensino de Química para Surdos através do teatro.


É notório que o teatro encanta muitas pessoas, como também é uma forma de se expressar, mostrar realidades, contar histórias, mostrar pontos diferentes de um mesmo assunto, representar conceitos que seriam de difícil entendimento pelas metodologias tradicionais. Em uma das falas de Einstein ele afirmou que: “a arte mais importante do mestre é provocar a alegria da ação criadora e do conhecimento”. Então porque não utilizá-lo como uma forma de ensino? O teatro, para alguns autores é defendido como uma estratégia muito importante para o ensino, como aponta Koudela (2011 p.1):

“Atualmente a legislação educacional brasileira reconhece a importância da arte na formação e desenvolvimento de crianças e jovens, incluindo-a como componente curricular obrigatório da educação básica. O Teatro é abordado nos PCN – Arte a partir de sua gênese em rituais de diferentes culturas e tempos e o jogo é conceituado a partir promovendo o desenvolvimento da criatividade, em direção à educação estética e práxis artística. Nesse sentido, o jogo teatral é um jogo de construção em que a consciência do ‘como se’ é gradativamente trabalhada em direção à articulação da linguagem artística do teatro. No processo de construção dessa linguagem, a criança e o jovem estabelecem com seus pares uma relação de trabalho, combinando a imaginação dramática com a prática e a consciência na observação das regras do jogo teatral.”

Os surdos se comunicam através da LIBRAS, consequentemente utilizam muitas expressões faciais e corporais, sendo a observação visual muito importante. Neste sentido podemos pensar o quanto a química, ou qualquer outra disciplina, ensinada de forma lúdica, como o teatro, poderia enriquecer o processo de ensino-aprendizagem. Mas antes de tudo devemos entender que o surdo não é uma pessoa incapaz, e sim uma pessoa que se comunica em uma língua diferente dos ouvintes, e nós podemos claramente utilizar esse meio de comunicação para interagir e criar interessantes formas de ensinar diversos conteúdos.
Atualmente ensinar química tem sido um desafio, visto que a desmotivação dos alunos em estudar um conteúdo abstrato e muitas vezes encarado como difícil, somente tem aumentado assim, se faz necessário pensar em alternativas diferenciadas de ensino. Na esfera do ensino de química para surdos, a linguagem química se torna muito distante a esses indivíduos, pois possui uma simbologia própria e muitos termos específicos da química não possuem sinal próprio em LIBRAS (SOUZA e SILVEIRA, 2011). Esta dificuldade, além da complexidade de interpretação e compreensão da Língua Portuguesa, acaba gerando maiores dificuldades porque os recursos didáticos basicamente se encontram na forma escrita, ou sem adaptação em LIBRAS. Desta forma, o teatro se mostra como uma alternativa interessante para auxiliar o professor e motivar os alunos. Podemos trabalhar com os alunos ouvintes e os surdos, conseguindo uma maior interação entre ambos além de proporcionar uma forma eficaz de se aprender um conteúdo de forma lúdica e prática.



Referências:

·         KOUDELA, Ingrid D. A nova proposta de ensino do teatro. 2011. Acessado em 24.10.2016 Disponível em: http://www.revistas.usp.br/salapreta/article/download/57096/60084

·         SOUZA, S. F. de; SILVEIRA, H. E. Terminologias químicas em LIBRAS: a utilização de sinais na aprendizagem de alunos surdos. Química Nova na Escola. n. 33, p. 36-46, 2011.

·         https://culturasurda.net/



Por: Maria Helena Zambelli

mhzambelli@gmail.com

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Relato de experiência de uma aluna surda: o olhar sobre o ensino de química em um projeto de extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora.


Olá caros leitores, hoje vamos saber a história de uma estudante surda que motivou um grupo de profissionais a criar um projeto que tivesse um ensino de química voltado ao aluno surdo.

Depoimento...

Tudo começou em 2012, eu estava no 9° ano do ensino fundamental, quando fui visitar um espaço com a escola que chamava Centro de Ciências da Universidade Federal de Juiz de Fora. Tinha uma exposição acontecendo que chamava “Cadê a Química?“. Era uma casa, onde tinha explicações de química pela casa inteira e eu não entendia nada. Primeiro porque os mediadores falavam rápido e minha mãe que era intérprete se perdia em vários termos próprios da química. Esses termos próprios não tinham sinais e isso dificultava a comunicação em língua brasileira de sinais, pois ela precisava explicar tudo detalhadamente para que eu pudesse compreender, sendo assim, a comunicação era bem mais lenta.


Pois bem, eu e minha mãe chamamos o diretor do espaço para propor um projeto que ensinasse química para surdos. Sabíamos que na escola regular esses projetos não recebem incentivos e também não apresentam condições para existirem. Entretanto, na universidade sim, teríamos uma chance. Pois bem, foi quando o diretor do espaço aceitou e montou um projeto para atender o  surdo.
Comecei a assistir às aulas e participei do mesmo até a conclusão do ensino médio que me levou a graduação em Letras – Libras da Universidade Federal de Juiz de Fora. Todo esse esforço me coloca hoje como bolsista voluntária para auxiliar novos alunos surdos, que assim como eu, passam por sérias dificuldades dentro da escola regular para um ensino que de fato nos inclua. O projeto de ensino de química para alunos surdos é muito importante, por que na escola esse ensino não é maravilhoso, digo a didática não é acessível. Não temos um jogo que nos inclua ou quando a aula é diferente, apresenta um experimento, o professor não sabe explorar os detalhes visuais que nos aguça.

O projeto apresenta acessibilidade para ensinar, é claro, bastante visual e tem um professor de química que tem comunicação em libras, que faz muita diferença no processo de ensino aprendizagem. A sensibilidade do professor ajuda a criar jogos de química, dinâmicas, pois ele compreende a vida do surdo e nossa cultura.
 Para finalizar, quero chamar atenção de professores que aprendam Libras, e que se possível, criem mais projetos como esse, que tenha somente alunos surdos em sala de aula com uma atenção voltada para alunos surdos. Aluno surdo não tem mais dificuldade, só não um ensino acessível para aprender.



 ...

Esse depoimento nos faz refletir sobre vários pontos que permeiam a educação de surdos, tais como a formação de professores de química, a gestão escolar, as dificuldades em terminologias próprias da química em Libras, e outras tantas que dizem respeito aos aspectos culturais do povo surdo que não são explorador e mencionados dentro da escola regular. Tudo que foi comentado pela aluna mostra que os alunos recorrem a espaços extra escolares que apresentam disponibilidade para promover um ensino acessível e de qualidade aos surdos. Nesse sentido, devemos repensar, qual o nosso papel como escola?

Abraços e até a próxima!!


Mirella Pena – Graduanda de Letras- Libras da UFJF.

Vinícius S Carvalho- Mestrando de Ensino de Química pelo PPGQ/UFJF.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Vocês já ouviram falar em Pedagogia Visual?



 Olá queridos leitores!


Algo que tem nos auxiliado dentro do Projeto de Extensão de Inclusão de Surdos no Ensino de Química, oferecido pelo Centro de Ciências da UFJF, a compreender as especificidades da educação para surdos são as leituras relativas à Pedagogia Visual. 

Mas o que é essa Pedagogia?

Antes de compreendê-la, vale ter em conta que existem linguagens não verbais que fazem parte do dia-a-dia de muitas pessoas. Dentre elas está a linguagem imagética, que tem como foco o uso de imagens para explorar um conceito, uma ideia ou apresentar uma situação. A semiótica imagética é um ramo dessa linguagem. 

 
Campello (2007) explica que a semiótica imagética é um estudo novo e um novo campo visual no qual se insere a cultura surda. “É a imagem em Língua de Sinais, onde vocês podem transportar qualquer imagem ou signos em desenhos ou figuras em Língua de Sinais [...]” (CAMPELLO, 2007, p. 106).
A língua de sinais na comunidade surda exerce o papel de propiciadora de inserção cultural, sendo por meio dela que o indivíduo surdo passa ter contato com seus pares, com sua cultura o que favorece diretamente o desenvolvimento de sua identidade. É através da língua de sinais que os surdos têm a garantia de acesso aos saberes científicos construídos em nossas escolas. Segundo Vygotsky (1999) os conceitos são construções culturais, que vão sendo internalizadas pelo indivíduo no decorrer do processo de desenvolvimento. No entanto, no que diz respeito ao processo de aquisição de conceitos por indivíduos surdos, destacamos que além da oferta de educação em sua primeira língua, garantida sob força do decreto nº 5.626 (BRASIL, 2005), a utilização de recursos visuais como suporte para tal aquisição, atualmente nomeadas pedagogia visual Buzar (2009), tem se apresentado como uma prática pedagógica que visa à garantia da aprendizagem significativa para essa parcela da sociedade. Kelman (2011) nos remete ao fato de que além da utilização da linguagem oral e da língua de sinais nos processos de ensino/aprendizagem, a utilização de recursos visuais variados pode contribuir significativamente para a aprendizagem de crianças surdas, salientando a necessidade de que esses recursos estejam inseridos nas estratégias pedagógicas direcionadas aos alunos. Corroborando com a autora, Simões, Zava, Silva e Kelman (2011, p.3609) destacam que “o ensino de alunos surdos apoia-se em duas vertentes, o bilinguismo e o uso de recursos especiais, baseados na experiência visual”.
Sendo assim, o uso das imagens é algo que o professor de química e de ciências pode ir adquirindo ao conviver com a comunidade surda e, com isso, ir construindo a consciência linguística do outro.
Para compreender melhor sobre a Pedagogia Visual e quais aportes teóricos a acompanham, deixamos como sugestão a leitura do texto: Pedagogia Visual/Sinal na Educação dos Surdos – Ana Regina e Souza Campello. Disponível em PDF: <http://editora-arara-azul.com.br/estudos2.pdf>. (p. 100-131).

REFERÊNCIA:

BUZAR, E. A. S. A Singularidade visuo-espacial do sujeito surdo: implicações educacionais. Dissertação de mestrado. Brasília: Faculdade de Educação da UnB, 2009.
KELMAN, C. A. Significação e aprendizagem do aluno surdo. In MARTÍNEZ, A. M. & TACCA, M. C. V. R. (Orgs.) Possibilidades de aprendizagem: ações pedagógicas para alunos com dificuldade e deficiência. Campinas, SP: 2011.
CAMPELLO, Ana Regina e Souza. Pedagogia Visual: sinal na Educação de Surdos. In: QUADROS, R. W; PERLIN. G. (Org). Estudos Surdos II. Petrópolis, RJ: Arara Azul, 2007, p. 101-131.
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo, Martins Fontes, 1989, Obras escogidas V. Visor. Madrid, 1997.

Mariana Bueno Ribeiro Mendes – Graduanda em Pedagogia UFJF
Sâmela Lessa – Graduanda em Licenciatura em Química UFJF
Vinícius da Silva Carvalho- Mestrando em Educação Química pelo PPGQ/UFJF.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

O ensino de química, voltado para inclusão de alunos surdos, mediado pelas TICs.

     

Vinícius Carvalho, Mestrando em Educação Química pela UFJF.
vinicius.scq@gmail.com


      Olá caro leitor, hoje abordaremos um assunto bem interessante! Você já ouviu falar sobre as TICs? Pois bem, as TICs, assim abreviado, são todo o tipo de Tecnologia da Informação e Comunicação. Consideraremos nesse texto, todo o tipo de programas, recursos tecnológicos com possibilidades de utilização em lições química.
        Atualmente, a tecnologia vem invadindo nosso espaço escolar e cada vez mais se tem a presença de celulares e aplicativos difundidos para o uso entre estudantes. Como lidar com isso?
A resposta é calma! A tecnologia pode ser uma grande aliada do professor, porém em grande parte da busca de softwares é destinada a pesquisa de química dura, não sendo criados especificamente para a área de educação e ensino.  Mas não se desespere professor, podemos reverter esse caso e fazer com que os softwares já criados ganhem uma cara diferente, a cara do ensino, da exploração do campo visual. E como podemos ver aqui no blog e em outras publicações, a inclusão de alunos surdos e ouvintes em uma sala de aula podem estar em grande parte no uso de TICs para o processo de ensino e aprendizagem de certos conteúdos.

Vamos então à apresentação de alguns programas e recursos bacanas para se utilizar...

Programas de modelagem molecular em 3D: O ensino de diversos tipos de ligações entre átomos e das interações entre moléculas é fundamental para se compreender as propriedades das substâncias. Para fazer o download e saber mais click em http://avogadro.cc/wiki/Get_Avogadro





                                                                                                 Imagens disponíveis do programa. Acesso em: 01/06/2016


Vídeos e fotografias em sala de aula: Muitos autores como Mateus,A.L ; Fantini, L.H (2015) denominam esse recurso como um processo em que o estudante realiza “a ciência na tela”. Esses autores chamam a atenção para que esse recurso audiovisual e visual seja uma fonte de mídia mais utilizada em sala de aula, integradora e inclusiva com o tempo apresentado nas ultimas décadas. Sendo assim, vídeos do Youtube com experimentos de química, vídeos gravados pelos alunos e fotografias podem ser utilizados como recursos, métodos de aprendizagem além de serem utilizados como instrumento de avaliação da aprendizagem dos conceitos ministrados.



Aplicativos de celular: Ainda temos muito pouco material que podemos utilizar em sala de aula, porém, vocês precisam ver os aplicativos de tabela periódica interativa que ajudam muito a inserção e a contextualização de assuntos que envolvem os elementos químicos. Para fazer o download é preciso acessar o site https://itunes.apple.com/us/app/the-elements-by-theodore-gray/id364147847?mt=8



                                           Imagem disponível do aplicativo. Acesso em 01/06/2016.

Todos esses recursos, que apelam e aguçam nosso sentido visual, pode e deve ser uma estratégia para inclusão de aprendizagem de química dos estudantes surdos. Principalmente surdos, pois sabemos que a parte potencial para o seu aprendizado é mediado pela visão.
Por meio desse texto, gostaria de chamar atenção para as possibilidades e sabemos que nem sempre os mesmos podem ser utilizados, mas acreditamos em um ideal e sabemos que esse tipo de recurso precisa ser mais acessado dentro da sala de aula para que a inclusão de fato possa ser feita.
Compartilhem também a experiência de vocês, será um prazer para nós!!

Abraços queridos e até a próxima!

sábado, 14 de maio de 2016

Propostas Metodológicas Alternativas Para a Educação Inclusiva a Surdos: Enfoque Nos Conteúdos de Balanceamento de Equações Químicas e Estequiometria Para o Ensino Médio

Por Jomara M Fernandes, Mestre em Educação em Química pela Universidade Federal de Juiz de Fora
jomarafernandes@yahoo.com.br


Olá prezados leitores,

Hoje eu gostaria de compartilhar com todos vocês a minha pesquisa de mestrado que, com muito orgulho, agora estou a divulgar.

Nessa pesquisa fica claro que são poucos os trabalhos já divulgados que relacionam o ensino de química aos alunos com necessidades educacionais especiais. Menor ainda é o número de trabalhos voltados a propor estratégias didáticas diferenciadas com foco na aprendizagem, em especial, do discente surdo. Em vista disso, o anseio maior dessa dissertação foi o de cruzar essas duas vertentes: o ensino de química e a educação do aluno surdo. Buscamos propor estratégias de ensino que atendessem as especificidades do sujeito surdo e que auxiliassem a prática do professor com esses alunos. Nesse sentido, estratégias de ensino e avaliação para os conteúdos de balanceamento de reações químicas e estequiometria foram desenvolvidas com e para surdos. Defendemos que toda a prática pedagógica voltada para o trabalho com esses alunos precisa estar pautada na pedagogia visual e no uso de materiais concretos. Para que esses discentes tenham o acesso aos conteúdos químicos facilitados, ressaltamos que é preciso voltar todos os esforços possíveis na elaboração e divulgação de estratégias de ensino e de terminologias científicas em Libras. Percebe-se que ainda é necessário avançar em estudos com esse viés. Novas investigações precisam ser acrescidas nessa área e divulgadas para os profissionais que lidam diretamente com a realidade educacional.

Que essa pesquisa venha contribuir com a prática de vocês, professores e pesquisadores, que se preocupa com uma educação de qualidade para seus alunos surdos.

Um forte abraço e até logo!

Faça o download da dissertação em PDF através do link:


segunda-feira, 21 de março de 2016

DIALOGANDO EXPERIÊNCIAS: A CONSTRUÇÃO DO SINAL DE DIAGRAMA DE LINUS PAULING.


            O Centro de Ciências da Universidade Federal de Juiz de Fora oferece um projeto de extensão voltado para o ensino, da disciplina química, do aluno surdo por meio de recursos acessíveis permitindo a construção de instrumentos de ensino. Paralelo a esses objetivos o projeto visa proporcionar aos graduandos dos cursos de licenciatura em Química, Pedagogia e Letras-Libras experiências na área da educação inclusiva.
Procura-se nesse espaço atender o aluno surdo e considerando as suas especificidades linguísticas, possibilidades para os estudantes construírem conhecimento da disciplina de química. Pesquisas apontam que a ausência de sinais para essa terminologia dificulta a interação do aluno com o novo que lhe está sendo apresentado.
            Ciente destas condições buscou-se organizar as aulas a partir de recursos visuais variados, tais como: programas de informática, tabela periódica interativa, práticas em laboratório e produtos alternativos, além de materiais didáticos específicos construídos de acordo com as observações e colaboração dos alunos, participantes ativos no processo do ensino, tendo como objetivo os seguintes passos.

Essa atividade destaca o trabalho sobre configuração eletrônica, que foi desenvolvido da seguinte maneira:



De acordo com essa imagem, a Aula 2 teve como objetivo a construção de um material didático que foi utilizado recursos específicos construído, pelo professor e os alunos, no formato de um jogo interativo, composto por 7 caixas de plástico transparente, potinhos de plástico transparente de 04 tamanhos diferentes, bolinhas de plástico na cor dourada e etiquetas para identificação.
       
A referida atividade possibilitou melhor compreensão sobre a dinâmica da aprendizagem dos alunos; a importância da produção de materiais didáticos visuais, mais apropriados à formação lingüística do surdo; que a construção de recursos didáticos em conjunto com os alunos também estimula sua autonomia e a proposta de um sinal para o Diagrama de Linus Pauling escrito abaixo em SignWriting.
Sinal de distribuição eletrônica em Sign Writing.
         

No desenvolvimento contínuo do projeto verifica-se que há uma preferência dos estudantes por atividades mais visuais, que podem ser exploradas em várias formas. Podemos destacar que quando se associa o estimulo visual com o sentido do tato, a compreensão do aluno surdo parece torna-se mais eficaz. Os trabalhos continuam com o intento de promover o conhecimento sobre a realidade do aluno surdo no seu desenvolvimento escolar.


Eloi Teixeira César- Doutor em Química pela UFMG
Maria Aparecida Borges- Mestre em Educação pela UNESP
Vinícius S. Carvalho* - Mestrando em ensino de Química pela UFJF
*vinicius-scarvalho@hotmail.com

domingo, 6 de março de 2016

A Educação de Surdos no Brasil: uma reflexão da história e dos atuais desafios dessa educação

Olá amigo leitor. Hoje vamos tratar sobre algumas questões educacionais da comunidade surda no nosso país, perpassando por fatos históricos desse processo educativo.  Essa breve análise historiográfica nos permite identificar e melhor entender as dificuldades vivenciadas por esta comunidade juntamente com a realidade e tendências da educação na perspectiva do aluno surdo.

Ao analisarmos os trabalhos que dizem sobre a história educação de surdos no Brasil, encontramos que seu início se deu em 1855 quando com o apoio do Imperador D. Pedro II, foi fundado o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos – IISM. Segundo Reis (1992), o interesse foi impulsionado pelo fato do Imperador ter um neto com surdez, filho da Princesa Isabel com o conde D’Eu – parcialmente surdo.

O precursor da educação de Surdos no Brasil foi Hernest Huet (1822-1882) que nasceu em Paris, na França. Huet começou seus estudos desde a infância e ouvia normalmente. Ficou surdo aos doze anos de idade por consequência de um sarampo. Pertencente à nobreza, estudou no Instituto em Bourges onde aprendeu a Língua de Sinais francesa. Tornou-se professor de francês para um grupo de surdos na Europa e por sua experiência foi convidado pelo imperador Dom Pedro II.

Segundo o Relatório Anual de 1993 da Federação Nacional de Integração e Educação de Surdos (FENEIS), o francês Huet, ex-diretor do Instituto de Surdos de Paris, trouxe sua experiência a fim de comprovar a capacidade do surdo na área da Educação. Seus trabalhos ajudaram a colocar em funcionamento o Instituto de Surdos-Mudos, a princípio instalado no Centro do Rio de Janeiro. Porém, apenas em 26 de setembro de 1857 consolida-se uma educação sistematizada com a fundação do Instituto Nacional de Educação do Surdo (INES), atualmente no bairro Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Durante anos o INES foi a única escola especial para surdos e recebia surdos de todas as partes do Brasil. Até hoje o Instituto é uma referência não apenas nacional como também internacional.

Figura: Foto antiga e atual do Instituto Nacional de Educação para Surdos – INES. Fontes:http://construindohistoriahoje.blogspot.com.br/2014/10/breve-relato-sobre-aspectos-historicos.html e http://editora-arara-azul.com.br/novoeaa/revista/?p=466

 Dessa forma, a Língua de Sinais adentrou na educação dos indivíduos surdos no Brasil como forma de comunicação e expressão, sobretudo com influência francesa que, aos poucos, foi se desenvolvendo e se adaptando à cultura linguística brasileira.

Atualmente, as comunidades surdas já conquistaram vários espaços relacionados à educação e ao uso da sua língua natural, a Libras. Tais conquistas estão intrinsecamente ligadas a aprovações do legislativo através de Decretos e Leis que garantem ao surdo os seus direitos como cidadãos.

Pesquisas sobre a educação de surdos no Brasil têm mostrado que existem poucos trabalhos que se propõe a investigar o percurso histórico da educação inclusiva do aluno surdo no Ensino de Ciências. A realidade que enfrentamos hoje, segundo Souza e Silveira (2011) é de professores de ciências – e no caso particular de nossa pesquisa, de professores de química – que não possuem formação que lhes possibilitem trabalhar com deficientes auditivos, gerando como consequência a exclusão e distanciamento dos alunos surdos nas aulas desse conteúdo.

Como uma consequência de Leis e Decretos que visam garantir o acesso de todos à educação, os alunos surdos de hoje estudam, em sua maioria, com intérpretes em classes regulares presentes nas escolas inclusivas.  Não existe ainda um questionamento contundente quanto aos pontos positivos e negativos deste fato. Simplesmente, é a Lei que deve ser seguida.

No campo das ciências acadêmicas observa-se um crescente número de pesquisas interessadas em conhecer a realidade da comunidade surda e discorrer sobre a necessidade da formação de professores capacitados, metodologias que contemplem inclusão, dentre outras questões que permeiam o ensino das ciências.

O trabalho de Ferreira, Nascimento e Pitanga (2014) reclama a necessidade de uma formação consistente do professor. Formação esta que englobe os conteúdos e as estratégias metodológicas adequadas e necessárias para que possam atuar com alunos especiais de modo responsável. Urge a necessidade de realizar pesquisas que possibilitem sugestões eficazes para os problemas enfrentados no ensino voltado aos alunos surdos.

No tocante à educação do aluno com surdez, é necessário que todos os profissionais da escola sejam conscientizados de seus papéis para que se permita um caminhar menos árduo desse aluno rumo ao seu sucesso acadêmico. Não basta a existência de uma legislação ampla que, dentre outras garantias, dá o direito a ter o intérprete em sala, mas necessita-se, ainda, de mudanças gradativas e contínuas de toda a sociedade.

Obrigada pela leitura e até breve!

Referências:

Reis, V. P. F. A criança surda e seu mundo: o estado da arte, as políticas e as intervenções necessárias. Dissertação, Vitória, 1992.

FENEIS. Grupo de Pesquisa da FENEIS. Educação de surdos e educação inclusiva. Revista da FENEIS, Relatório Anual (1), 18-20, 1993.

Souza, S. F. de; Silveira, H. E. Terminologias Químicas em LIBRAS: A utilização de sinais na aprendizagem de alunos surdos. Química nova na escola, 33(1), 2011.

Ferreira, W. M.; Nascimento, S. P. F.; Pitanga, A. F. Dez Anos da Lei da Libras: Um Conspecto dos Estudos Publicados nos Últimos 10 Anos nos Anais das Reuniões da Sociedade Brasileira de Química. Química Nova na Escola, 36(3),185-193, 2014.

Jomara M Fernandes
Mestre em Ensino de Química pela Universidade Federal de Juiz de Fora
jomarafernandes@yahoo.com.br

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Comunicação e estratégias de ensino: atenção ao planejar ações e atividades


Olá queridos leitores!
Como vem sendo dialogado em nosso blog, além de conversar sobre o ensino de química, estamos em busca de orientar professores, escolas e familiares para um ensino consciente com alunos surdos. Hoje vamos nos dirigir a professores que estão iniciando o ano letivo com alunos surdos na sala de aula, mas que são leigos sobre o surdo e sua cultura.
Acreditamos que os primeiros passos para uma boa relação em sala de aula acontecem com o processo investigativo de reconhecer sua classe e as diversas identidades culturais que a compõe. Esse conhecimento se torna um grande aliado na hora do planejamento e na busca de recursos e estratégias de ensino a serem aplicadas nesse espaço.
O professor ao identificar um aluno surdo em sala de aula necessita questionar as estratégias de ensino, empregadas com turmas de alunos ouvintes e compreender como acontece o processo de comunicação em uma nova relação professor, aluno e intérprete.
Entendemos assim como Ferreira (2011) que o grande fator problema de surdos na escola é a falta de uma linguagem comum entre ele e seus colegas e professores. O ensino na escola regular segundo Botelho (2002), diz que a língua portuguesa é utilizada de forma total dentro da sala de aula nos processos de letramento, privilegiando estudantes ouvintes, o que exclui usuários de outras línguas, tais como os Surdos, usuários da Língua de Sinais Brasileira acarretando em fracasso escolar e evasão.
Sendo assim, compreendemos que as metodologias de ensino não são a barreira para o processo de inclusão de surdos nas escolas, visto que os mesmos não possuem deficiência cognitiva para o processo de ensino e aprendizagem, mas sim de como essa metodologia será empregada através de suas estratégias.
A realidade do espaço escolar, em sua grande maioria, possui professores não usuários da língua brasileira de sinais (libras), em sala de aula, com pouca ou nenhuma informação sobre cultura surda e por isso, apresentam dificuldades para buscar estratégias que permitem o acesso ao ensino. Nesse sentido, vamos comentar algumas situações e relações de comunicação nesse espaço.
A Ciência, em específico a Química, é um componente curricular que pode ter como aliado a pedagogia visual por apresentar muitos modelos, representações e permitir experimentos, sendo assim as pistas visuais podem facilitar o trabalho do professor.
 Na impossibilidade de fazer com que o aluno compreenda o que deseja, através da fala, a demonstração pode ser um recurso. É preciso tomar cuidado, no entanto, para que as estratégias de comunicação e de ensino não fiquem restritas a demonstração, sendo esta posição inconveniente tanto para ouvintes quanto para surdos. Mas estamos tratando das varias formas de comunicação que devem ser empregadas nesse espaço a fim de incluir surdos e ouvintes. Outro aspecto importante é explorar a expressão corporal, outros sentidos, juntamente com a visão, tais como o tato e olfato através de jogos e dinâmicas por exemplo.
O professor não usuário da libras, no entanto deve ter atenção ao se dirigir os alunos surdos na linguagem oral deve se manter de frente, falar corretamente, em ritmo moderado sem exagerar nos movimentos labiais.  Caso o professor saiba usar a língua de sinais, deve-se usá-la antes ou após a explicação em português não deixando essa função para o intérprete. O intérprete é um mediador, que poderíamos chamá-lo de catalizadores para o estudante surdo, pois acelera a comunicação atraves da libras, porém não deve participar diretamente da elaboração das estratégias de ensino criadas pelo professor, como apresenta um fluxograma abaixo. O importante é que os alunos surdos percebam que o professor se dirige também a eles e que se preocupam em fazer com que se sintam incluídos no grupo. 

Tais colocações na comunicação com o surdo colocam em igualdade de condições com os alunos ouvintes durante as atividades, aproximando no processo de inclusão, além de manter boas relações entre intérpretes - aluno - professor.  Porém, chamamos atenção que nem sempre as estratégias serão úteis em todas as atividades e essas informações não se tratam de uma receita. Os estímulos e estratégias de ensino devem variar e a comunicação deve se dar, tanto quanto possível, através de uma língua. 

Essas são as dicas de hoje na hora de fazer seu planejamento de aula e praticar ações em sala de aula, até mais pessoal!!


Referências:

FERREIRA, E. L. (Org.) . Atividade física, deficiência e inclusão escolar. 01. ed. Niterói: Intertexto, 2011. v. 06. 108p .
BOTELHO, P. Linguagem e Letramento na educação dos surdos - Ideologias e práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

Vinícius Carvalho
Mestrando em Ensino de Química- PPGQ/UFJF
vinicius-scarvalho@hotmail.com

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

ALGUMAS QUESTÕES QUE PERPASSAM OS DESAFIOS DO ENSINO DE QUÍMICA NO PARADIGMA DA EDUCAÇÃO DO ALUNO SURDO

O ensino de química muitas vezes segue o modelo tradicional, que se caracteriza pela memorização de inúmeras fórmulas por parte dos alunos sem relacioná-las com a forma natural que ocorrem no cotidiano. Como professores, sabemos que nossa preocupação não deve estar centrada apenas no conhecimento do conteúdo teórico, mas de igual modo na formação do aluno como cidadão, capaz de compreender e questionar os fenômenos que ocorrem em sua volta.
            Muitos pesquisadores defendem que para uma aprendizagem significativa em química é preciso fazer com que os alunos transitem entre os três componentes do chamado triângulo de Jonhstone (1973), representado na figura.


Infelizmente, o ensino de química na Educação Básica ainda tem se mostrado predominantemente tradicional, onde o docente é a figura central encarregado de transmitir o conhecimento. E ainda, essa transmissão acontece, sobretudo, oralmente. Os estudantes, passivos, assimilam o que lhe é transmitido e são avaliados posteriormente com ênfase em sua capacidade de memorização e reprodução do conteúdo. Assim, não somente para os estudantes surdos como também aos ouvintes, esse método de ensino e avaliação se mostra inconveniente.
Conforme Sousa e Silveira (2011) salientam, os alunos com surdez não recebem uma educação que podemos dizer “Para Todos”. Estes, excluídos e sentindo-se incapazes, muitas vezes desistem de seus estudos ainda na fase inicial. Não podemos cruzar os braços diante desse quadro, precisamos reagir e agir de forma responsável diante da realidade e diversidade da sala de aula.
Uma escola que inclui alunos surdos em seu ensino regular deve ter presente que compreender a surdez em seu sentido mais amplo equivale a conhecer o caráter visual do sujeito surdo, o qual se comunica através da Língua Brasileira de Sinais (Libras), dando-lhe o significado de “ser surdo”, ou seja, o de ser um sujeito que se utiliza de uma forma diferente de se comunicar e aprender.
No que diz respeito ao processo de aquisição de conceitos por indivíduos surdos, destacamos que além da oferta de educação em sua primeira língua, garantida por Lei sob força do decreto nº 5.626,  a utilização de recursos visuais como suporte para tal aquisição se apresenta como uma ferramenta em potencial em suas aprendizagens.
Urge construir o novo, criar o que é mais acessível visual, linguística e metodologicamente a fim de garantir de maneira responsável o ensino eficiente da química nas escolas e verdadeiramente inclusivo para os alunos surdos.



Referências:
SOUZA, S; SILVEIRA, H. E. Terminologias Químicas em Libras: A Utilização de Sinais na Aprendizagem de Alunos Surdos. Química Nova na Escola, fev. 2011, p.37-46.


JOHNSTONE, A. H. The development of chemistry teaching: a changing response to a changing demand. Journal of Chemical Education. V. 9, n. 70, p. 701-705, 1973.

Escrito por: Jomara Mendes Fernandes
Mestre em Ensino de Química
jomarafernandes@yahoo.com.br